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UTAD aposta no combate ao Abandono Escolar

Foto: Entrada principal Campus

A Universidade aposta num conjunto de medidas de combate ao abandono escolar, em resposta ao trabalho desenvolvido por grupo de investigadores

Na sequência da decisão do Conselho Geral da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) em perceber um dos fenómenos mais preocupantes que atinge os sistemas educativos nacionais, “O abandono escolar”, a UTAD promoveu um estudo coordenado pelo docente e investigador do Departamento de Economia, Sociologia e Gestão Fernando Bessa.
Conhecer e compreender a situação do abandono escolar na UTAD, visando formular recomendações sobre programas e iniciativas vocacionadas para a redução dos efeitos da condição socioeconómica e cultural, de modo a oferecer aos estudantes em risco de abandono uma oportunidade de frequência bem-sucedida de um curso de ensino superior” foram objetivos deste estudo exploratório realizado entre maio e julho de 2014.
Segundo o responsável do estudo, “os resultados exigem um olhar atento a este fenómeno que mostra uma realidade nacional inquietante, sobretudo se atendermos à situação dos restantes países da União Europeia”. Neste contexto, a UTAD vai procurar os meios para implementar um conjunto de medidas, visando combater um dos fenómenos mais preocupantes que atinge os sistemas educativos nacionais.
Amostra
O estudo incidiu nos alunos de licenciatura e mestrado integrado da UTAD matriculados em 2013/2014. Foram identificados 1117 estudantes em situação de incumprimento no pagamento de propinas e 86 alunos em situação de anulação de matrícula. Dos 1203 alunos identificados, foram contatados 355, tendo um número reduzido mostrado disponibilidade para serem inquiridos.
As inquirições foram realizadas por telefone através de questionário a 37 alunos, sendo que oito aceitaram participar em entrevista aprofundada realizada presencialmente.
Resultados
O abandono escolar atinge, sobretudo, os alunos recém-chegados à UTAD (81.1% dos que abandonaram fizeram-no no primeiro ano do curso). Sendo vários e diferentes os motivos apontados para o abandono, os mais referidos são (por ordem decrescente): “licenciatura não correspondeu às expectativas”; “dificuldades económicas”; “adaptação à cidade e à vida académica”; “conciliação com a vida profissional”. São ainda apresentadas outras razões, como “questões pessoais não explicitadas”, “frequência de curso de especialização tecnológica”, “problemas de saúde”, “opção pela carreira militar”, “desinteresse pelo prosseguimento de estudos” e “incompatibilidade de horário”.
Não obstante o desapontamento em relação ao curso ser mais evocado do que as dificuldades económicas, o confronto com as respostas a outras questões do inquérito, nomeadamente as de índole económica, permite concluir que este motivo é menos decisivo do que o económico. O desapontamento em relação à licenciatura está ligado, fundamentalmente, ao não ingresso no curso pretendido.
É relevante considerar que estamos perante alunos que, na grande maioria, vivem de forma austera. Os 19 alunos que trabalham têm um rendimento médio de 515€, com 57.9% até 500€ e 89.5% até 660€. O rendimento familiar mensal é baixo, com 85.7% das famílias a viver com até quatro salários mínimos, verificando-se que 28.6% não superam dois salários mínimos. A maioria dos agregados familiares é composta por quatro (42.5%) e cinco (21.2%) elementos, situação que os coloca em situação de risco. Metade dos alunos despendia, com os estudos, até 300€ por mês.
O estudo sublinha que o incumprimento dos prazos de pagamento das propinas por mais de um milhar de estudantes (perto de 20% de estudantes em incumprimento parcial ou total), situação que, em linha com o acima mencionado, pode também indiciar carências económicas que importa conhecer e acompanhar. A saída da UTAD é vista por 64.7% como acertada e por 23.5% dos alunos inquiridos como inevitável. Apenas dois alunos mostraram desinteresse em reingressar na UTAD.
Interpelados sobre os apoios úteis a este reingresso, os alunos mencionaram como mais relevantes, o aumento do valor da bolsa, maiores facilidades para trabalhadores estudantes (v.g., flexibilidade do horário de trabalho e canal próprio para o atendimento nos Serviços Académicos) e acesso a bolsas e outros apoios sociais de que beneficiam os alunos não trabalhadores.
Os dados recolhidos apontam para a importância do aconselhamento como um procedimento de apoio a estes alunos, mobilizando-se para isso os recursos existentes nos Serviços de Ação Social da UTAD na área da intervenção social.
Recomendações
Assumem especial relevância para o futuro, as recomendações a seguir elencadas, a recente criação do Fundo de Apoio Social (FAS), articulados com os apoios específicos dos Serviços de Ação Social UTAD, com o alargamento das formas de prestação de trabalho na Universidade aos alunos em dificuldades e o acesso a empréstimos bancários para prosseguimento de estudos. Assim, pretende a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro:
i. Introduzir procedimentos de sinalização, aconselhamento e apoio aos alunos em situação e risco de abandono, articulando os Serviços Académicos e os SASUTAD, para que os primeiros encaminhem para os segundos todos os que, por motivos predominantemente económicos, solicitem a anulação da matrícula. Esta articulação deverá incidir, com especial atenção (e concomitante mobilização de recursos) nos alunos inscritos no primeiro ano, atendendo a que o grosso do abandono (mais de 80%) se dá entre os alunos que iniciam a sua vida académica.
ii. Envolver as direções dos cursos, em estreita articulação com os SASUTAD, tendo em vista o acompanhamento/apoio aos alunos em dificuldades.
iii. Articular com a Associação Académica a monitorização e a intervenção, considerando a proximidade e influência que esta tem junto dos alunos.
iv. Elaborar manual de procedimentos, visando facilitar a intervenção e monitorização do problema pelos diferentes intervenientes.
v. Apoiar financeiramente os alunos que, embora estejam acima do limiar mínimo para beneficiar de apoio social, têm um rendimento familiar que impede o prosseguimento de estudos.
vi. Ampliar possibilidades de prestação de trabalho na Universidade aos alunos em dificuldades, garantindo que não conflitua com as exigências básicas para o sucesso escolar.
vii. Apoiar oferta de apoio psicossocial e aconselhamento interpares, através de programas de integração dos estudantes do primeiro ano, fora das práticas de iniciação vulgarmente designados por praxes académicas.
viii. Criar sistema de balcão único de atendimento dos estudantes, permitindo a triagem dos casos sociais sinalizados, de forma concertada entre os Serviços Académicos e os SASUTAD.
ix. Apoiar em articulação com instituições financeiras, o acesso dos alunos a empréstimos bancários para prosseguimento de estudos.
x. Sensibilizar e envolver o governo, designadamente a nível financeiro, no desenho de programas de ação contra o abandono escolar no ensino superior, em especial nas instituições mais periféricas, como é o caso da UTAD.

Consulte aqui o estudo