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A cadeia alimentar é um dos fatores apontados como determinante nesta resistência, assim como a interação do homem com a natureza
 
Uma equipa de investigadores da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), liderada por Patrícia Poeta tem conduzido estudos sobre a resistência a antibióticos dos Lince e Lobo Ibéricos, e lideram já a investigação na área, a nível mundial, em colaboração com organismos internacionais ligados à proteção das espécies.
O foco da investigação incide na procura de causas para a resistência a antibióticos, por parte destas espécies protegidas e em via de extinção, e na procura de soluções para a redução dessa resistência por forma a “aumentar as hipóteses de tratamento nos espécimes selvagens e de cativeiro”.
“Resultados obtidos nos diversos estudos conduzidos por nós e por outros investigadores apontam para a forte possibilidade de a alimentação ser um fator preponderante neste problema” afirma Patricia Poeta.
Uma vez que resultados da investigação apontam a cadeia alimentar como fonte provável da resistência a antibióticos, “é importante determinar a que nível a alimentação dos animais em cativeiro pode ser feita com carne proveniente de animais tratados com alguns medicamentos e, caso essa alimentação influencie a resistência bacteriana e invalide o tratamento, importa sugerir alternativas de dieta para o melhoramento das condições da espécie em cativeiro”, sustenta a investigadora.
Estas são conclusões baseadas em resultados encontrados em animais em cativeiro. No entanto, foram identificados outros fatores, igualmente importantes, que induzem essa resistência nas espécies em habitat livre.
Segundo a investigadora a “utilização de antibióticos na medicina humana, medicina veterinária e em agricultura” são alguns dos fatores identificados, já que “grandes quantidades destes compostos são libertados para o meio-ambiente anualmente”. Exemplos apontados são a libertação das águas das ETAR (Estação de Tratamento de Águas Residuais) e a utilização de estrume na agricultura.
“Estes fatores são importantes na disseminação da resistência aos antibióticos, razões que podemos apontar para os resultados obtidos nos Linces e Lobos de vida livre, os quais não são alimentados com animais de produção intensiva”, acrescenta.
 
Por isso, os investigadores consideram importante e fundamental o estudo de resistências a antibióticos “em bactérias comensais gastrointestinais e potencialmente patogénicas isoladas dos Lince e Lobo Ibéricos, selvagem e em cativeiro, de forma a melhor entender, gerir e estudar a conservação destas espécies” sublinham, ou poderá estar em risco “a ausência de resposta a tratamento com antibióticos em processos infeciosos”.
O conhecimento das resistências a diferentes antibióticos em estirpes bacterianas comensais e patogénicas “permitirá uma melhor gestão e aplicabilidade do uso de agentes antimicrobianos nas diferentes situações clínicas ou de maneio, aumentando o sucesso do seu uso e possibilitando uma utilização mais conscienciosa, eficaz e economicamente mais rentável”, sustenta.
Os investigadores ainda chamam a atenção para a importância da divulgação dos resultados obtidos nestes estudos como forma de “consciencialização do público em geral para a preservação da natureza e da biodiversidade, ajudando o cidadão comum a não poluir as florestas e as áreas naturais” e explicando, por exemplo, que os “restos de alimentos podem constituir um fator importante de transmissão de resistências aos antibióticos do homem para os animais”.
Nota sobre as Espécies 
O lince ibérico, o felino mais ameaçado do mundo, era considerado extinto em território Português desde 2003. Para tentar inverter a situação, em 2004 foi elaborado um Plano de Ação para a Conservação do Lince Ibérico em Portugal, onde se incluiu a estratégia nacional de conservação ex situ para a espécie. O objetivo é participar no programa ibérico de conservação ex situ para o lince através de um conjunto de medidas integradas, que envolve o Centro Nacional de Reprodução de Lince Ibérico, em Silves.
Estima-se que na Península Ibérica, sobrevivam cerca de 2000 lobos (Canis lupus signatus), dos quais cerca de 300 em território português. Esta é uma espécie considerada em Perigo de Extinção desde 1990 pelo Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal e estritamente protegida por lei: Lei 90/88 regulamentada pelo DL 139/90.