Foto: Jornalismo regional

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O perfil do jornalista vai ter de mudar

A visão de um novo jornalismo na sociedade contemporânea, que implicará a alteração do perfil do jornalista, esteve em destaque na palestra de abertura do Curso de Pós-Graduação em Jornalismo Regional UTAD/Lusa, que aconteceu na passada sexta-feira (7 de outubro), na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.

O Vice-reitor Artur Cristóvão, um dos grandes impulsionadores deste curso, abriu a sessão para deixar uma nota de otimismo sobre a parceria entre a UTAD e a Agência Lusa para a realização do curso, que se propõe ser uma aposta bem estruturada num jornalismo de proximidade, mas também no estreitamento das relações com as instituições da região. Dirigem o curso Ricardo Jorge Pinto, pela Agência Lusa, e Inês Aroso, pela UTAD.

O palestrante, Ricardo Jorge Pinto, diretor adjunto de informação da Lusa e conhecido comentador televisivo de política nacional, ao falar sobre “Jornalismo 3.0”, fez o retrato da evolução do setor desde o iluminismo até aos nossos dias e das variáveis que o exercício jornalístico foi apresentando ao longo dos tempos. O jornalismo da notícia, da total isenção, mas sobretudo da objetividade, conhecido como “Jornalismo 1.0”, está sendo abandonado. “A objetividade é hoje um conceito perigoso”, pois há “sempre uma componente subjetiva na visão dos factos”, reconheceu. Mas também a segunda vaga, a do chamado “Jornalismo 2.0”, está a perder força. Esta vaga ganhou dimensão exponencial com o surgimento das escolas de jornalismo e passou a conferir notoriedade aos jornalistas, na ideia de que “os jornalistas não se devem limitar a transcrever”, passando a imperar “o conceito de análise ”. Este jornalismo, que atrai escritores para a profissão e apresenta grande variedade estilística, já não é de citação, mas de explicação. “Rompeu-se com o excesso de objetividade e passou-se para outro excesso, o da análise”, perguntando-se, por vezes, “mas onde está o facto?”, sendo que o facto está “soterrado nessa componente analítica”. Por fim, o “jornalismo 3.0”, que terá grandes implicações nas vertentes editoriais, deontológica e tecnológica, mereceu uma abordagem mais sustentada. Sofre o impacto dos novos modelos de negócio, das tecnologias digitais, do fenómeno da globalização e da localização, assim como dos desafios da pulverização da informação pelas redes sociais e outros sistemas hipertextuais da internet. Segundo Ricardo Jorge Pinto, o perfil do jornalista vai ter de mudar. Nesta nova vaga, o jornalista será um bibliotecário (especializado na pesquisa), um notário (que dará o selo de qualidade e de credibilidade ao conteúdo informativo) e um analista (a pessoa que precisa de mostrar os contextos, isto é, de pôr as coisas em contexto). Terá, por isso, de ter qualificações multimodais: saber escrever, saber paginar, fotografar, dominar tudo, mas ser também especialista em alguma coisa.