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“Palavras livres” no Estabelecimento Prisional de Vila Real

Foto: UTAD

“Palavras livres”, assim se designou o projeto de parceria, desenvolvido entre os meses de Março e Dezembro de 2017, entre a UTAD e o Estabelecimento Prisional de Vila Real, com o apoio da associação Música Esperança. Isabel Alves e José Eduardo Reis, do Departamento de Letras Artes e Comunicação, propuseram-se ler e interpretar com um grupo de reclusos trechos de duas obras de cunho autobiográfico – Um Longo Caminho para a Liberdade, de Nelson Mandela, e O Homem em Busca de Um Sentido, de Victor Frankl –, suscetíveis de proporcionar situações de diálogo em torno de duas narrativas existenciais caracterizadas pela radical privação de liberdade política e de concentracionária suspensão dos mais elementares direitos humanos. Sem intenções moralistas, essas leituras, processadas de modo alternado, tiveram em vista levar os participantes a tomar conhecimento das estratégias de resistência moral, animadas por um indefetível sentido de esperança que, de modo próprio, quer Mandela, quer Frankl, auto descobriram e auto cultivaram para lidarem com as situações de prolongada reclusão e de extrema repressão que definiram parte substancial e crítica das suas respetivas vidas. Os reclusos puderam assim confrontar a sua condição temporária, jurídica e socialmente justificada, de neutralização do exercício pleno das suas liberdades cívicas, com a situação de dois excecionais protagonistas que resistiram física, moral e espiritualmente às condições de extrema e sórdida anulação da sua dignidade política e humana. Mas mais do que a verificação desse confronto, a principal mensagem que se procurou comunicar foi a de que a liberdade maior é a que se conquista, independentemente das determinantes conjunturas externas, na busca de um sentido para a vida, nesse processo incluído o reconhecimento das consequências dos atos praticados e da sua consciente, esperançosa e pacificada superação no devir aberto da existência futura. Projeto demasiado ambicioso, que provavelmente ficou muito aquém destes propósitos, mas que não deixou de encontrar a sua justificação pelos exemplos ideais que comunicou e quiçá pelos imponderáveis efeitos positivos que as palavras livres de Mandela e Frankl deixaram em quem as escutou e leu no estabelecimento prisional de Vila Real.