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Graça Morais, Doutora Honoris Causa da UTAD: «Se eu tivesse 18 anos, matriculava-me nesta Universidade»

A Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) viveu ontem (dia 11 de maio) um dos seus momentos mais solenes, com a atribuição do Doutoramento Honoris Causa à pintora transmontana Graça Morais. A Aula Magna encheu-se de convidados das mais diversas instituições, onde se destacava a presença do Primeiro-Ministro, António Costa.

A abrir a cerimónia, o Reitor da UTAD, Emídio Gomes, vincou a alegria e a importância de tal celebração, ao conceder a “mais elevada distinção universitária a uma portuguesa que se orgulha de o ser, em especial a partir da sua matriz e das suas origens transmontanas”. A UTAD – acrescentou o Reitor – “na sua matriz identitária de forte ligação ao território, cumpre assim o dever de honrar e distinguir os seus melhores”.

Aproveitando a presença do Primeiro-Ministro na assistência, Emídio Gomes, desafiou-o, a sair dali “ainda mais motivado para, nos próximos anos, nos deixar a sua marca indelével no desenvolvimento global do país como um todo coeso, em que cada parcela do seu território seja sempre a mais importante”.

Cumprindo o ritual da cerimónia, intervieram de seguida os padrinhos da doutoranda: o ex-Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, e a professora de História da Arte, Catedrática da Universidade NOVA de Lisboa, Raquel Henriques da Silva. No seu elogio a Graça Morais, Manuel Heitor debruçou-se sobre “a condição humana que a pintora exprime na sua obra” e sobre a forma como “tão bem levou, não apenas a obra mas Portugal, a vários pontos do mundo”, reconhecendo que “o diálogo e confronto entre os tempos e os locais da realidade transmontana com o mundo é aquilo que caracteriza a identidade e a singularidade da sua obra”. Por sua vez, Raquel Henriques da Silva, como especialista, abordou a dimensão artística da obra da doutoranda, destacando os imaginários nela refletidos, a começar pelo imaginário infantil com os contos tradicionais que o enchem. É uma obra intensamente lírica, com um “percurso de autoindagação dela sobre ela mesma e dela enquanto membro de várias comunidades”.

A cerimónia contou ainda com um momento musical de Pedro Caldeira Cabral, com a guitarra portuguesa, apresentando dois temas inseridos no espírito de homenagem à pintora.

Depois de cumprido o protocolo ritualístico de consagração do título honorífico, Graça Morais, num agradecimento sentido à homenagem e reconhecimento da sua obra que esta cerimónia representa, vincou a grande admiração que nutre pela UTAD. “Se eu tivesse 18 anos matriculava-me nesta Universidade, para poder andar a passear neste campus”, afirmou a pintora. “É de uma beleza enorme – acrescentou –, só este campus dá origem a muitas pinturas. Desafiava os artistas a olharem para este campus, que eu considero um oásis, e fazerem arte”.

Graça Morais aproveitou também a presença do Primeiro-Ministro, lançando-lhe um apelo para que os artistas sejam mais apoiados em Portugal. “Há artistas que envelhecem na pobreza e têm vergonha de dizer que são pobres. É preciso valorizá-los, não só com medalhas, mas com apoios, e, sobretudo, dignificar a vida dessas pessoas que tanto oferecem ao país” – foram as palavras da pintora.

E a concluir disse ainda: “Agora sou Doutora por extenso, mas o que serei sempre é pintora”.

Num a mensagem gravada em vídeo e passada na cerimónia, o Presidente da República deixou também o seu testemunho, com palavras assim sintetizadas: “Graça Morais prestigia Portugal cá dentro e lá fora, e, por isso, envio-lhe um testemunho muito amigo do admirador, do académico, do cidadão e do presidente da República Portuguesa em nome de todos os portugueses”.

Por sua vez, o Primeiro-Ministro, que reconheceu o Honoris Causa como “um ato de justiça e um tributo a quem nunca deixou as terras e as gentes transmontanas, fazendo delas o centro da sua arte e o símbolo da nossa responsabilidade perante elas”, enalteceu a Universidade, em declarações à comunicação social, afirmando que “tem dado um contributo muito relevante para desenvolvimento da região” e importa “valorizar também a cultura que é um elemento essencial para a valorização da região.”