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Assinala-se hoje, 24, o Dia Nacional da Cultura Científica, em homenagem ao comunicador de ciência, professor e poeta Rómulo de Carvalho, que nasceu nesta data. Inspirados pela mesma filosofia de divulgar ciência, Armando Soares e Maria Manuel Nascimento escrevem, a partir da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), cartas para estudantes de Países de Língua Portuguesa.

Achei o projeto ‘Cartas com Ciência’ muito interessante por ser com cartas e por desafiar os investigadores a falar com jovens. Além disso, como sou da geração das cartas adorei a ideia de voltar a escrevê-las”, conta Maria Manuel Nascimento, professora no Departamento de Matemática.

Depois de concluir a formação obrigatória em setembro de 2020, Maria Manuel Nascimento começou a corresponder-se com uma aluna de São Tomé e Príncipe. Este ano, as suas cartas já têm dois destinatários: um aluno do mesmo país e uma aluna de Moçambique.

“No ano passado, a aluna queria fazer sociologia, mas, como tinha muitas dificuldades a matemática, trocámos receitas e expliquei-lhecomo é que a matemática também se aplicava nas receitas. Este ano, a aluna de Moçambique disse que queria estudar Turismo e eu mostrei-lhe um pouco das estatísticas do turismo. O aluno de São Tomé e Príncipe é muito bom a matemática, então, enviei-lhe umas piadas estatísticas da Ação Local de Estatística Aplicada (ALEA) e arranjei outras de matemática para o desafiar”, relata.

No final das contas, a experiência tem sido “muitíssimo interessante e enriquecedora”. “Pensar que com uma carta podemos entusiasmar alguém a ler e a escrever mais, a pensar na sua vida futura, etc., é quase tão bom como dar aulas.”

O projeto “Cartas com Ciência” prevê que sejam trocadas quatro cartas por ano letivo. Armando Soares, professor do Departamento de Física, já selou duas cartas para satisfazer a curiosidade de um aluno moçambicano interessado em perceber “o que faz um cientista, tanto no trabalho como nos tempos livres”. “Gostam de saber porque é que escolhemos ser cientistas e de partilharem o que pretendem ser no futuro”, refere.

Armando Soares e o seu correspondente já se conheceram através de uma videochamada, organizada pelo projeto. Há mais de ano e meio que o docente da UTAD está neste projeto de voluntariado, entusiasmado pela “possibilidade de contribuir para a motivação para a ciência junto de crianças desfavorecidas no acesso aos meios académicos e científicos”.

Através do projeto “Cartas com Ciência”, estes professores e investigadores da academia transmontana são embaixadores da cultura científica portuguesa. “Esta experiência tem sido muito gratificante, porque acabamos por partilhar a nossa cultura com crianças dos Países de Língua Oficial Portuguesa”, conclui Armando Soares.

Já Maria Manuel Nascimento destaca todo o potencial da equação: “é ser embaixadora de ideias que poderão um dia vir a germinar. Se ficar uma sementinha e, um dia, estes jovens crescerem e forem cientistas por causa do programa e por eu ter sido mais uma gotinha que participou, ficarei muito orgulhosa. Se não forem cientistas, pelo menos, contactaram com pessoas de outras culturas e abriram horizontes”. Afinal, o resultado que interessa está nas palavras de António Gedeão (pseudónimo de Rómulo de Carvalho): “Sempre que um homem sonha / o mundo pula e avança / como bola colorida / entre as mãos de uma criança”.

Lançado em 2020, o “Cartas com Ciência” é um programa de troca de cartas, escritas em Português, entre cientistas e crianças, com o objetivo de levar a ciência a todos os cantos da lusofonia. Até março deste ano, estavam inscritos mais de 700 cientistas de Língua Portuguesa e 89% dos estudantes conheceram, por esta via, um cientista pela primeira vez.

 

Texto: Patrícia Posse